Balada dos enforcados

Irmãos humanos, que após morrermos viverão

Não endureçais contra nós o vosso coração

Pois apiedando-vos daquilo que fomos um dia

Deus por vós também há de ter simpatia.

Cá estamos, amarrados, cinco ou seis de nós

Carne empanturrada que a vilania compôs

De há muito já rota e apodrecida

Até a cinza dos ossos consumida.

De nossas maldades já não há quem reclame:

Rogai, portanto, que o bom Deus nos ame.

Se vossos irmãos nos consideramos, sem ironia

Aceitai-nos, apesar desta morte que expia

Nossos crimes. Procurai reconhecer

Que a nem todos é dado o senso de ser

Sensatos. Perdoai-nos pois, porque morremos

E diante do Filho da Virgem logo estaremos.

Que Ele não nos negue o seu perdão eterno

Condenando-nos ao fogo furioso do Inferno.

Mortos estamos, que ninguém nos difame:

Rogai, contudo, que o bom Deus nos ame.

O batismo da chuva nos lavou e limpou

O ácido sol nos enegreceu e secou

Vermes e corvos nossos olhos escavaram

Nossas barbas e sobrancelhas arrancaram.

Em nenhum tempo estivemos parados

Pelo vento sempre nos vimos arrastados

Sempre pelas circunstâncias fomos impelidos

Pelas garras da má sorte fomos sempre feridos.

Não queremos partilhar da nossa vida infame:

Rogai unicamente que o bom Deus nos ame.

Príncipe Jesus, que sobre tudo tens o poder

Não deixai o Inferno sobre nós prevalecer

Mas comprai nossas dívidas, sob o Teu exame.

Homens, não existe aqui anedótico ditame:

Rogai ao bom Deus que Ele nos ame.

Damnus Vobiscum e François Villon
Enviado por Damnus Vobiscum em 13/08/2015
Código do texto: T5345476
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