Poesia no divã
Com licença, doutor Freud
Permita-me deitar em seu divã
Preciso indagar contigo
Preciso do seu ombro amigo
Falar sobre esta poesia vã.
Quero que decifre meu inconsciente
Que me deixe falar desesperadamente
Que analise minhas palavras
Versos, rimas, candura e raiva
E tudo que passa em minha mente.
Já conversei com Fernando Pessoa
Alberto Caeiro e Pablo Neruda
Morri de rir com Gregório de Mattos
Chorei com Augusto dos Anjos
Mas em nada essa sensação muda.
Pedi ajuda a Cecília Meireles
A Bandeira, a Drummond de Andrade
Achei versos no meio do caminho
O Claro Enigma tentei decifrar sozinho
Mas em todo lugar a poesia me invade.
Já fiz da palavra disfarce de coisa grave
Conforme dialoguei com Adélia Prado
Assim como eu Álvaro de Campos
Queria ser o que pensa e ser tantos
Que até me senti cavalo-alado
Em tempos modernos já viajei Gaivota
Claudia Gonçalves, Saldanha, França, Maha
Sobrevoei Bacca, Tarelho, Andréa Motta
Nadir Donófrio, Tadeu Paulo, Benvinda Palma
E neste vasto céu a poesia me amarra
Que me diz, doutor Freud?
Se a língua molda o inconsciente
Como afirma Lacan veemente
Que faço eu com minha alma poeta
que vive em mim tão intensamente?
Existe explicação para a Poesia?
Nem Freud explicaria...