SERÕES DA MINA'ALDEIA
Gri, Gri... canta o grilo
No borralho da lareira,
Rodopia o fuso, a fiandeira,
Esvazia-se a roca,
Cresce a maçaroca,
Gira a dobadoira,
Sarilho a sarilhar,
A tecer o tear.
O fogo a crepitar,
As castanhas a assar,
Histórias, e muita treteira,
À mistura
Com o bom vinho na “picheira”
Que a sede ninguém atura.
A lua cheia
Imensa candeia
De uma beleza sem par,
Incendeia a minh'aldeia
Veste-a toda de luar
E tão bonita ficava
Que até os lobos de voz esganiçada
Desciam em alcateia,
A fazer serenatas
À minh’aldeia.
Hoje, lobos, por ali não há,
Os serões também não são
Como os de antigamente;
Agora toda gente
É refém dum écran de televisão.
Velhos tempos, bons tempos,
Em que as famílias dialogavam
E rezavam
Ao redor da lareira,
Aquecidas por um braseiro
Dum velho cepo de castanho,
A contar estórias de antanho
Durante o serão inteiro.