SERÕES DA MINA'ALDEIA

Gri, Gri... canta o grilo

No borralho da lareira,

Rodopia o fuso, a fiandeira,

Esvazia-se a roca,

Cresce a maçaroca,

Gira a dobadoira,

Sarilho a sarilhar,

A tecer o tear.

O fogo a crepitar,

As castanhas a assar,

Histórias, e muita treteira,

À mistura

Com o bom vinho na “picheira”

Que a sede ninguém atura.

A lua cheia

Imensa candeia

De uma beleza sem par,

Incendeia a minh'aldeia

Veste-a toda de luar

E tão bonita ficava

Que até os lobos de voz esganiçada

Desciam em alcateia,

A fazer serenatas

À minh’aldeia.

Hoje, lobos, por ali não há,

Os serões também não são

Como os de antigamente;

Agora toda gente

É refém dum écran de televisão.

Velhos tempos, bons tempos,

Em que as famílias dialogavam

E rezavam

Ao redor da lareira,

Aquecidas por um braseiro

Dum velho cepo de castanho,

A contar estórias de antanho

Durante o serão inteiro.

Eduardo de Almeida Farias
Enviado por Eduardo de Almeida Farias em 20/10/2015
Reeditado em 02/12/2015
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