Uma Palavra
Tem uma palavra perdida na esquina
Jorrando com o sangue dos inocentes
Há uma palavra boiando no copo
Gemendo junto à baba dos dementes
Há uma palavra rogando misericórdia
Há uma palavra virando canção
Há uma palavra oculta na manga da camisa
Uma palavra no táxi, outra na contramão
Tem uma palavra no abismo
Confundindo-se com uma oração
Há uma palavra rodando na fita
Pedindo, rogando por compaixão
Há uma palavra perdida no verso
Há uma palavra na boca do ateu
Há uma palavra voando no céu da boca
Há uma palavra entre meu sexo e o seu
Tem uma palavra perdida na praia
e outra presa, na barra da saia
Tem uma palavra no telefonema
Sugando idéias como um estratagema
Há uma palavra só na capela
Beijando o suor dele que rola na fronte dela
Há uma palavra guardada com sal
Há uma palavra emitindo um sinal
Há uma palavra no corpo do bombeiro
Há uma palavra na porta do banheiro
Tem uma palavra no começo do dia
Convidando uma nova filosofia
Há uma palavra de batom no espelho
Escorrehando pelo ralo da pia
Há uma palavra no céu de abril
Há uma palavra eleita num funil
Há uma palavra chamada amor
Há outra palavra chamada dissabor
Tem uma palavra no laço de fita
Tem outra palavra bebendo birita
Há uma palavra que nasce, é fonte
Há uma palavra em Belo Horizonte
E entre palavras, cortejos
E pelas palavras, esvotos
E entre palavras, dicionário
Gérmen de palavras, educandário
Para toda palavra: ciência
Alyne Costa
Salvador, março de 2005
Tem uma