Silêncio
Esse silêncio ensurdecedor me insana;
Sela meus lábios, amarra minha língua.
Por causa desse vazio calado, mofado
Minh'alma gelada não me abraça,
Não sente saudades, não palpita.
Desde que esse silêncio tomou conta
Dos dias e estabeleceu toque de recolher;
Minhas palavras desbotaram,
Minguaram entediadas na boca
Como a não mais sentir emoção.
Nem um lampejo ou uma faísca distraída,
Acende a boa e velha fogueira
Das palavras afoitas e despachadas.
Esse silêncio mortal que caiu como um véu
Cegou meus olhos que não mais choraram
De encantamento ou prazer.
Um silêncio lúgubre calou minha voz,
Adoeceu a minh'alma sonhadora,
Enrijeceu meus dedos miúdos
Que já não desejam desabrochar
Palavras em poemas ou prosas.
Perdi meu olhar em um ponto escuro
No infinito onde jamais amanhece,
Com os pés fincados no solo árido
Assisto cansada o passar do tempo...