Hoje amanheci Poeta

Com aquela inexplicável vontade de chorar ...

Parecendo estar preparado para compreender,

A importância de um fato comum, cotidiano,

No qual os latões de lixo enfileirados na calçada,

Em dias alternados e por crianças e adultos visitados,

Na ânsia de encontrar restos, vidros, plásticos, latas ...

Dia sim, dia não.

Aumentando a proporção, lembrei grandes indústrias.

Cujos “restos”, ora se transformam em combustíveis,

E, somando às mais diversas outras soluções humanas

Tentam, em desesperada corrida contra o tempo fazer,

Exatamente o inverso de tantos séculos, a manter incólume

A nossa habitação maior, a “sobra” para nossos descendentes ...

Dia sim, outro também.

Ampliando um pouco mais pude ver, para minha tristeza,

Uma humanidade pedinte, mendigando detritos e dejetos;

De toda sorte, e por ela própria produzidos, em nome de um

Progresso desordenado, ganancioso, doentio, inconseqüente !

E se houver tempo para tamanho “curativo”, aqui não estarei mais,

A socorrer gerações prejudicadas por culpa dos seus ascendentes ...

Dia sim, eternidade idem.

Agora entendo aquela vontade de chorar.

Pois o processo é irreversível, e que pode ser apenas atenuado.

Até aonde valeu a pena tantas “obras humanas”, se enquanto miséria,

Maior miséria ?! Enquanto riqueza, maior riqueza ?! E a desigualdade,

Enquanto a miséria e a riqueza continuam a dividir o mesmo espaço ?!

Convivendo ainda mais próximas, e confundindo-se na autodestruição ...

Dia sim, dia sim, dia sim ...

Por Alexandre Boechat

Em 10 de Julho de 2007.

Alexandre Boechat
Enviado por Alexandre Boechat em 10/07/2007
Reeditado em 21/11/2018
Código do texto: T558993
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