Miríades


Já nem mesmo sei, não mais reconheço quem você é,
Em meio ao infinito de faces com que se me apresenta,
Às vezes sugerindo que não é minha ou de ninguém,
Que nem mesmo se pertence e, às vezes, é de todos...
Nos breves momentos em que, romântica, me açodo,
Vejo-a empunhando o estandarte do amor, do bem,
Vivendo a vida como que um filme em câmera lenta,
Logo em seguida possuída, Maria Padilha do candomblé.

Em outros momentos, por instantes, você é chuva,
Melancolia em seu estado mais puro, anoitecer, neblina,
Beco sem saída, encruzilhada de todos os descaminhos,
Como se a confluência a mostrar-me o rumo incerto...
Por vezes, brilha como estrela em noites no deserto,
Ao acolhido no refúgio de seu oásis, envolto no linho
Da penugem de seu corpo, quando se mostra a menina
A bailar sensual, despindo a saia, sacando a blusa...

Por outras vezes, é o mar com seus insondáveis mistérios,
Pérolas de suas profundezas, escondidas em suas grutas,
Em busca das quais mergulho a todo e cada momento,
Sentindo, por vezes, embriagar-me nessa letal narcose...
E feneço em seus braços ao sorver cada uma das doses
Deste absinto que me extasia e com que me alimento,
Degustando em seu corpo cada uma de suas frutas,
Insistindo ainda em tanto amar, infinito despautério...

Das vezes tantas, você é, meio a espinhos, simples flor,
Rosa que colho com beijos cálidos, cobrindo-a de versos,
Descobrindo a face oculta da mulher imensa, libidinosa,
Fêmea no cio com que me delicio, intensa, que ri e chora.
Vagamos pela imensidão etérea, pelo mundo afora,
Em meus braços contida a infinita mulher, toda prosa,
Em que se resumiu toda a amplitude de seu universo,
Vendo as miríades que antes eram sintetizadas pelo amor.
LHMignone
Enviado por LHMignone em 09/04/2016
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