Julgamento
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(Poema publicado na antologia internacional "Margens do Atlântico", pela Ed. Abrali)
Cavalheiros bem nascidos,
Que observam, ouvem, opinam
E estão a me julgar.
Saibam, jamais lhes implorarei perdão,
Portanto, cumpram teus vis esforços.
Se a pena é a máxima, capital,
Que então me condenem e cumpram,
Dela não anseio esquivar.
Que minha idolatrada o execute , então,
Desprovida de preâmbulos ou remorsos.
Fosse eu um cristão bem criado,
Que obedecesse a leis que não as minhas,
Rogaria somente a ela, meu grande amor perdoar.
Por com sua permissão, minha sorrateira invasão,
Naquela, a mais escura das noites.
A paixão me rasgava o peito
E o desejo se fez mais forte,
Culminando no ensejo desprezar.
E por tal irracional “razão”,
Que venha da musa, antes da morte, o açoite!
Ó amada e bela, usei o escancaro da janela,
Que conduzia a fresca brisa noturna,
Para em seu pulcro quarto enveredar.
Ainda que sem noção, fui grato ao calor da estação,
Pela sensualidade que tua pele semi-nua exalava.
Ali você estava, na confortável cama estendida,
Belíssima, ó maravilha, lindamente adormecida,
No ávido esfalfamento de me esperar.
E, agraciado por sublime e terna visão,
Não havia volta, não mais, meu fôlego quase parava.
Uma mecha dos sedosos cabelos loiros –
Fios de ouro – adornava tua linda face
E explanava belos sonhos, jardins nus a desbravar.
Tocara irreversivelmente meu devoto coração,
Que, tal embevecido, perdeu de vez a coerência.
Embriagado pelo doce perfume e esguias curvas –
pele sob tecido, seda sob seda –, o incontrolável ardor
Fez desvanecer a nobre intenção de idolatria sem tocar.
Com amor, fizemos amor, na mais excelsa devoção,
E com paixão correspondida, rescindi tua inocência.
Agora, neste execrável julgamento,
Em meio a seres além-mundo de sentimentos,
Sou julgado por bem querer, por muito me encantar.
Gritos coléricos pedem sumária condenação,
Mas, desdenho, por nenhum vir de ti, ó divina.
Que eu seja aqui e agora castigado,
E se amar é pecado, também no inferno pagarei...
Nada além importa, pois no gozo, tu jurou me amar.
Ó minha amada, que se entregou de alma e coração,
Na ânsia de voltar te peço, então, que aciones tu,
Esta histriônica guilhotina.