Historinha de um pecadilho

O bonde naquela tarde

Talvez levasse almas serenas;

Talvez, pois nunca se sabe

Sobre as aparências amenas.

O bonde naquela tarde

Talvez levasse grandes pecados;

Talvez, pois não é sempre

Que nossos rostos mandam recados.

O bonde naquela tarde

Talvez levasse grande poesia;

Talvez, pois poeta, neste mundo,

Não é comum mercadoria.

O bonde naquela tarde

Levava uma grande aflição,

Levava a mãe e seu filho

À mais dura revelação.

Rápido saem do bonde,

E entram no hospital,

Nada mais podia ser feito,

Vovó estava muito mal.

A enfermeira toda de branco

Irradiava sua formosura;

O menino, adolescente,

Voou em seus braços, com fervura.

A mãe olhou para o filho

E o viu em tentação:

- Filho, filho meu,

A Deus peça perdão.

Voo de homem, entendemos,

Faz parte da vida sonhar.

Mas o menino se arrependeu

E logo começou a rezar...

Pelo pecado do pensamento

Que sorrateiro, traidor,

Despojou a avó enferma.

Naquele momento de ardor.

Mas no meio da oração

De branco vinha uma musa.

Que importuno, que chateação!

Para Deus, mais uma escusa...