Abrindo o jogo

Abri o coração e botei as cartas na mesa

Arregacei as mangas e andei feito barata tonta

Mas me agarrei com unhas e dentes ao meu plano

Porque não queria comer gato por lebre

Nem dar com o nariz na porta

Muito menos dar com os burros n’água

Pedi a Deus que me desse uma mãozinha

E que não me deixasse entrar numa fria

Eu estava com a faca e o queijo na mão

Mas ainda estava com a pulga atrás da orelha

Pensei, pensei, fiquei com o coração apertado

Com medo de engolir sapos

Pensei mais um pouco e resolvi

Mesmo que tivesse que dar o braço a torcer

Eu ia continuar batendo na mesma tecla

Só não ia ser um chato de galocha

Nem meter os pés pelas mãos

Cutuquei a onça com vara curta

E comecei a descascar o abacaxi

Quase fiquei a ver navios

Era como enxugar gelo, até fiquei de bola murcha

E quase entro pelo cano, mas fui enchendo linguiça

Dei a volta por cima e lavei a roupa suja

Com medo de levar chumbo

Enchi a cara com água que passarinho não bebe

Arregacei as mangas, fiquei andando nas nuvens

Fui arrastando as asas

E fiz o convite para ir pra onde Judas perdeu as botas

Chegando lá, dei uma de João sem braço

Fiz boca de siri e tirei de letra:

Molhei o biscoito, afoguei o ganso,

Matei a cobra e mostrei o pau...

Salvador, 31 de agosto de 2015, Valdeck Almeida de Jesus

Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 09/11/2016
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