HOMENAGEM AO FUNDADOR DA AMEIXEIRINHA
Alguém me chama, eu olho
Sentado numa cadeira
Senhor com batata no olho
Responde-me por brincadeira
Não fazendo mau juízo
Fumando seu cigarrinho
Estava o avô Zé Francisco
Ali muito caladinho
Ia andando até a Venda
Ou a loja do ti Joanito
Haverá quem o entenda
Cinco escudos por um panito!
Foi assim sua velhice
Depois de tanta miséria
Acabar assim!… Que chatice
Sem ter a quem dar uma léria
Se hoje tivesse vinte anos
Dizia ele, recordando
Faria outros planos
Mas a vida está acabando
Fui viúvo muito cedo
Com cinco filhos pra criar
Confesso que tive medo
Mas não os podia abandonar
Ai Camila, Camila
Tão cedo que tu partiste
Foi obra da minha pila
Que me deixaste tão triste
Levaste o nosso rebento
Pra debaixo da terra fria
Há dias que não aguento
Ficar sem a tua companhia
A morte vem a caminho
E eu ando tão cansado
Sem ter quem me dê carinho
Sou um velho abandonado
Nada disso meu avô
Vamos apanhar uns figos
Está a ouvir?... Alô Alô,
Somos todos seus amigos
Não fique tão desmorcido
Vai ver que neste Natal
Vai ficar agradecido
Por ser um avô especial
Tem o António e o Armindo
O Zé d’Almeida e o Custódio
O Alexandre está dormindo
Dei-te fora esse ódio
O Antonino e o Zé Manel
O Toininho e o Floriano
Não diga “vida cruel”
É vida de alentejano
E netas, você tem tantas
A Benedita e a Celestina
Todas elas umas santas
A Fernanda e a Vitalina
Do Malhão tem o Manel
A Ana e a Maria
Agarrado ao seu farnel
Com as ovelhas passa o dia.
A Dulce, a Domitília
A Cidália e a Sizaltina
A Bia, a Maria Adília
Qual delas a mais fina
Muitos deles já partiram
Esperam por nós lá no céu
Não sei se se divertiram
Mas eu tiro-lhes o chapéu
Mas mudando de assunto
Também teve cinco filhos
E agora eu lhe pergunto
Se foi um monte de sarilhos?
E assim acaba a história
Foi tudo brincadeirinha
Dum Homem que fez Vitória
E baptizou a Ameixeirinha.
Autora: Maria Custódia Pereira
20/11/2016