Ensaio contra o Sol

Quem é que olha

pelos meus olhos?

Quem é que mastiga

com minha mandíbula aberta

para quem quiser sentir,

o podre e o ocre

das línguas afiadas

umidificando o caminho,

o grito mudo, também preso

da fera humana especular?

O (des) gosto do sal

temperado por ausências,

terrores póstumos

e de uma palidez brutal,

manchada somente, pelo vinho ácido

dos dias iguais do cativeiro,

das horas amargas e vulgares

sob uma meia-luz qualquer

marginal.

Enlutando o crânio,

o pranto, passeando

às avessas da luz,

a ceifa adorada segue,

todo dia, em todo canto,

devorando do animal

as vísceras esplêndidas

estendidas contra o sol.

Vini Miranda
Enviado por Vini Miranda em 01/04/2017
Reeditado em 01/04/2017
Código do texto: T5957858
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