Em uma poesia...

Eu queria ser livre do seu nome

Dominar minha face desequilibrada, minhas feições trêmulas

Queria que ninguém notasse minha perturbação

Quando, testado pela obra do esquecimento

Surgem sucessivas as letras de seu nome

Queria ouvir mal para nesse instante

Não precisar ligar sílabas e formar palavras

Interpretar fonemas e abstrair idéias

Queria não ouvir seu nome

Não formar seu rosto

Delinear seu corpo e vesti-la quase incandescentemente

Mas se for irresistível isso

Queria pelo menos não ligar pessoa a sentimento

Que você fosse uma mera tela de arte cubista

Queria que o nosso passado não fosse seu

E no instante que ouvisse seu nome passasse pela cabeça

Uma historinha sem sentido de um par sem ímpar

Queria fingir não conhecer as pessoas

Que com certeza lembrarão de falar o seu nome

Antes de lembrar do meu

Queria que o seu nome fosse banalizado como uma cartilha sindical

Que o cartório registrasse milhões dele todos os dias

E na dúvida de a quem atribuí-lo não ver-lhe apontando entre todos

Queria ser livre para dizer seu nome

E não apenas permitido a expressá-lo

Em momentos de súbita dor

Não queria que seu nome representasse palavras complicadas de explicar

Palavras que se presumem ditas nos momentos de silêncio, como as que um dia vivemos

Queria apenas um dia ler o seu nome cristalizado e inofensivo em uma poesia...

Mar de Oliveira Campos
Enviado por Mar de Oliveira Campos em 18/10/2005
Reeditado em 18/10/2005
Código do texto: T60876