À distância

Da minha janela

Sempre vi aquela montanha de longe,

Sua plácida silhueta cinza azulada:

A imagem da eterna solidez.

Essa imagem se manteve

Até o dia em que resolvi me aproximar;

Nesse dia, aquela imagem de outrora –

Uniformemente azulada –

Tornou-se múltipla, fragmentada e colorida.

Estava quebrado o primeiro quadro.

O silêncio que lhe atribuía transformou-se

Em ruído intermitente.

De perto, vi toda a vida e movimento que de longe

Sequer imaginava.

O vento movia todas as folhas de todas as árvores,

As quais eram como pedras,

quando olhava da minha janela.

A vida revelou-se pela proximidade.

Decidi tocar a montanha, já não me bastava vê-la e ouvi-la.

Entranhei-me nela;

Uma vez mais a imagem anterior tornou-se mera lembrança.

Na trilha que levava ao cume senti a sombra,

A umidade, o cheiro das folhas putrefatas;

Ouvi todos os intermitentes e infindáveis sons;

E toquei seus fragmentos.

Eu perdi a montanha ao adentrar na montanha.

Eu a possuía inteira e agora já não tenho aquele

Recorte cinza azulado – e não a ter é uma forma

Oblíqua de não me ter a mim.

Estou perdido dentro de nova e densa imagem.

Nada é plácido de perto.

O sol é belo à distância.

O outro é belo à distância.

Exausto, segui na trilha tortuosa e mal sinalizada –

O rio pelo qual tive que passar era frio e perigoso.

Mas insisti: queria chegar ao cume. E parecia faltar pouco

Para tanto: minhas pernas tremiam,

Meus braços estavam lanhados; minha roupa, gelada, fundida ao corpo.

Cheguei. Novamente a imagem se desfez. Tornei-me alívio e cansaço,

E senti a grandeza efêmera que é emprestada

Aos pequenos aos quais de repente se concede o poder de olhar bem longe.

Perscruto a paisagem. Vejo a placidez das pequenas casas à distância.

Vejo minha vila - eterna e sólida - e imagino minha casa.

Ela está incrustada lá, mas não consigo separá-la do todo,

Como não se consegue discernir uma árvore numa floresta observada à distância.

Imagino minha casa e a janela de meu quarto;

A janela pela qual sempre vi a montanha.

Imagino-me em casa, à janela, admirando a placidez da montanha.

Ah, como eu sou plácido e íntegro vislumbrado assim!

Sou uma como uma folha de uma árvore na montanha distante!

Porém, tal qual uma montanha,

De perto sou fragmentado, tortuoso e quase inescrutável.

Não tenho sequer trilhas dentro de mim; e meus rios são muitos.

Só eu me arriscaria a adentrar. Mas não sei se chegaria ao cume.