O outono nas palavras

Desfaz no outono o tempo de despedida...

Sei da pavorosa intensidade do frio

na pele e na superfície lisa do rio

Sei do vagaroso murmúrio

no passado quase mudo.

Sei dos dias de medo e angústias

das neblinas dentro das noites

paramentadas.

Sei onde guardam as túnicas

bordadas com fios de ouro

e pedras importadas do Egito.

Sei das echarpes encharcadas,

unhas polidas, cor do aço de Minas.

Escapam dos olhos, miram ilustres barões.

No silêncio cortam o reflexo das lágrimas

e das gotas aceleradas

da chuva de novembro.

O tempo desconstrói pensamentos e desejos.

Caem as palavras preguiçosas

nos açudes visitados pelo vento.

dissolvem-se nas planícies

o gelo da Antártica.

O tempo devora sonhos

vaporosos e enganos de anjos

nas trilhas da tua mão.

Ele nos acolhe,

mas cospe os

dedos frios

daqueles que estão embaralhados

nas múltiplas escolhas anunciadas.

Eles não importam com nada.

Afastam-se das cores e sentidos.

Achegam-se.

Iludem as palavras bem pronunciadas,

não causam nenhuma desconfiança.

Somos sensíveis e sonhadores...

Sabemos do outono nas palavras.

Pedro Porta
Enviado por Pedro Porta em 30/10/2017
Reeditado em 30/10/2017
Código do texto: T6157032
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