Janelas para o mundo

Do alto da masmorra em que em vida se enclausurou,
Só, acompanhado somente por seus tantos dissabores,
Por não mais contar com esse amor que tanto amou,
Que tirou de sua vida a pujança e a beleza das cores,
Persistiu por tempo, transformando dias em eternidade
Na sucessão de anos sempre iguais, na mais pura rotina,
No aguardo de que retornasse ao recanto de felicidade
Em que a viu desabrochar como mulher, ainda menina.

A cada dia entoou aos ares contrito seu triste canto,
Lançou suas inúmeras mensagens perdidas aos oceanos,
Sinais de fumaça dissipadas pelo vento sem que no entanto
Lograsse a resposta almejada para o maior de seus planos...
Resumiu-se a desejá-la pelo tempo de um único arpejo,
Sentir o aconchego de seus seios aninhados em seu peito,
O sabor de suas lágrimas colhidas entre saudosos beijos,
O olor de seus cabelos a se espraiarem por seu leito.

Hoje, de novo renascem as flores em nova primavera,
Abrem-se as janelas até então cerradas para o mundo,
Divisa sua ninfa a bailar radiante como se uma quimera,
Imagem nítida que de desfaz em um lépido segundo...
No cimo de sua fronte, aureolada por tantas flores,
A tiara que lhe presenteou e que de maneira vã usa,
A indicar que renasceu para novo tempo de amores,
Que enfim despertou e reviveu como sua eterna musa...
LHMignone
Enviado por LHMignone em 04/11/2017
Reeditado em 11/04/2018
Código do texto: T6162428
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