Não sou pardo, sou preto
Querem minha anuência
Quando as vozes ancestrais gritam
Querem-me quieto e calado
Quando os tambores me convidam ao êxtase
Disseram-me ignore
Mas é a ignorância que nos está a maltratar
Olharam-me de alto a baixo
Mediram cada esquadro do meu corpo
Mas ele não estava à venda
Não mais
Tentaram matar meus ancenstrais mortos
Vejam a ironia
Suas memórias são inapagáveis
Quiseram-me quase branco
Quase santo
Quase crédulo
Logo eu que não me dou bem com metades
Nem de laranjas
Nem de credos
Muito menos de caras
Tentaram me tornar invisível
Isso eu já sou e uso para desviar dos crocodilos albinos
Das balas que se perdem
Dos olhares que me encontram e desdenham
Eu sou o que devo ser
PRETO
POBRE
PERIFÉRICO
Com um passado que me pesa
E um futuro que me assombra