Não sou pardo, sou preto

Querem minha anuência

Quando as vozes ancestrais gritam

Querem-me quieto e calado

Quando os tambores me convidam ao êxtase

Disseram-me ignore

Mas é a ignorância que nos está a maltratar

Olharam-me de alto a baixo

Mediram cada esquadro do meu corpo

Mas ele não estava à venda

Não mais

Tentaram matar meus ancenstrais mortos

Vejam a ironia

Suas memórias são inapagáveis

Quiseram-me quase branco

Quase santo

Quase crédulo

Logo eu que não me dou bem com metades

Nem de laranjas

Nem de credos

Muito menos de caras

Tentaram me tornar invisível

Isso eu já sou e uso para desviar dos crocodilos albinos

Das balas que se perdem

Dos olhares que me encontram e desdenham

Eu sou o que devo ser

PRETO

POBRE

PERIFÉRICO

Com um passado que me pesa

E um futuro que me assombra

Luiz Eduardo Ferreira
Enviado por Luiz Eduardo Ferreira em 20/11/2017
Reeditado em 29/01/2020
Código do texto: T6177383
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