Monólogo da ausência

Eu te sinto ausente e tua ausência é mensurável

de modo tal que a possa absorver plena e perene

caso a efemeridade dela não se justificar mais

e deixar de ser ausência

e tornar-se a definitiva presença de saudades...

Qual é o nível de tua ausência? Como se mede?

Se ela é como vida ou morte

em que nunca se está meio vivo ou meio morto...

Pois que te sinto assim ausente de mim

e enceto contigo um diálogo de corredor de hospício

e sigo conversando com tua ausência.

Ela me responde em silêncio,

anuindo às vezes

com uma ausência ainda maior.

E digo minhas verdades entrecortadas pelo silêncio

em que imagino e mesmo ouço o que me respondes...

Tu me dizes que o tempo urge!

E sei que deves correr contra o teu tempo

numa batalha vã, de uma derrota prenunciada.

Também quero correr, mas de que adianta?

Ninguém vence o tempo.

O tempo é senhor de tudo.

E ele diz-me urgir a hora de agir.

A ação é escrava do tempo que a determina e a conduz ao seu modo.

Sinto que corres agora

tanto quanto sinto a tua ausência.

Mas o tempo é senhor de tudo

e nem sempre age a meu ou teu contento...

Mas é como é! – é o tempo...

E o tempo é senhor de tudo!

Só não é senhor de si próprio...

Porque até mesmo para si o tempo passa também.

Deste modo, agora eu converso com tua ausência

porque não há mais tempo para coisa alguma.

Só tempo para a ausência

em que te fazes tão presente em mim!

Poeteiro
Enviado por Poeteiro em 23/10/2005
Código do texto: T62537