Coisa com coisa

(Para todos aqueles de quem ninguém lembra)

A tristeza é permanente.

A sombra é permanente.

É permanente a dor e a agonia.

O sol não ilumina essas trevas,

Nem o amor pode aqui entrar.

Quem foi se uniu à névoa densa,

E também as arvores e o caminho

Se apagaram nessa neblina sufocante...

Nada, nada, não há nada cantando,

Nem um ruído na porta,

Nem a janela balança,

Nem o grilo, nem os cães...

Neste momento a eternidade é maciça,

E o tempo é um bloco suspenso,

De fora olhos em fogo se esfriam,

E não aparece mão nem voz de anjo

Que pare navalha, a navalha, a navalha imaterial

Que dilacera as almas,

Que fatia em desespero os rictos emergidos nas faces,

O tremor nos nervos, na dissolução das coisas, dos laços...

A tristeza recria tudo,

Tudo mudou,

Tudo mofou,

Tudo sagrando para sempre negro...

Não existe noite,

Não existe o ontem,

Não existe nem existirá nada...

O esgotos estão sem insetos,

As feridas sem dor não lembram da morte...

Não, os mortos não querem saber,

Apenas um imenso vazio calafriento é ouvindo,

Mas ele não diz nada, coisa com coisa:

Já passou, já passou...

Não vai passar nunca...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 21/04/2018
Reeditado em 21/04/2018
Código do texto: T6314979
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