Voo cego

Voo cego

(Os espectros da percepção)

Cavalga velozmente

Segurando as rédeas da imaginação.

Conduzi-as com a sabedoria,

E com os sentidos que a vida lhe consente

Subjuga a escuridão.

Vê pelos olhos do pensar

Um calidoscópio

Um carrossel, circulatório

Explodindo em matizes e cores

Aquarela do seu sonhar.

Se a vida não lhe mostrou o semblante,

Por certo, encontrou outra amante

Nos amores e sabores

De um fino paladar.

Navega no oceano

Das liquefações mais maravilhosas

As lembranças só são vagas

Quando há vagas sobre as vagas

Do líquido tapete plano.

E quando as águas se permitem, orgulhosas,

Transpirarem pelos seus dedos,

Escorre na superfície do tato

Um vórtice de sensações caudalosas,

Como um desejo, um desiderato

De afogar todos seus medos.

O pipilar das gaivotas

É marcador sonoro das ilhotas

Dos ruídos libertários de outrora

A brisa encaminha silenciosa sinfonia

Que serpenteia as cócleas de agora

Como uma onda que das trevas se irradia.

O perfume que exala de todo o (a) mar

É balsamo, refrigério para o olfato

Indelével atestado, de direito e de fato

Que há vida além das instâncias do olhar.

Da percepção pelos odores do vento

Pode-se sentir na vestimenta do tempo

A textura cálida da manhã

Tudo é paz

No ontem, no hoje

E no amanhã

Quieteza e Mansidão,

A grande certeza

É que o olhar do cego

Ultrapassa a natureza

Do desvalido da visão.

© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 23/05/2018
Reeditado em 23/05/2018
Código do texto: T6344058
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.