Rugas do tempo.

Deixem as rugas em paz.

Por que tanta perseguição às pobres rugas?

Deixe-as cruzar caminhos na pele, distinguir sorrisos, grifar olhares, zebrar raios de sol.

As rugas contam vidas, perpetuam histórias, desbravam terras nem sempre férteis, mas que foram aradas e deram as colheitas possíveis. Assim como as cicatrizes, são marcas de sobrevivência e deve ser motivo de orgulho, símbolos de reverência.

Negar as próprias rugas é recusar um passado, seja de alegrias ou superações. Eliminá-las por processos cirúrgicos e excesso de preenchimento é soterrar o rio que chamamos de memória, desconhecer o “eu” que se apresenta no espelho.

Esses procedimentos extinguem a expressão humana ocultando a beleza da alma e criando aspectos de museu de cera.

Por onde vão correr as lágrimas sem seus velhos e conhecidos caminhos? Como o rosto vai transmitir completamente seus sentimentos se tem seus músculos paralisados?

Cria-se a ausência de si.

Deixem as rugas em paz.

Não são apenas sinais na pele...

São caminhos percorridos, marcas de prantos e sorrisos, asilaram raios de sol, afagaram a brisa. São estigmas, como motivo de orgulho, insígnia de respeito.

Sigo a vida já marcada e agradeço por isso.

E, por sorte, acaso ou poesia, envio sorrisos emoldurados por vincos, criando presença em mim.

Eber Emanoel
Enviado por Eber Emanoel em 02/06/2018
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