FORA DO ÉDEN

Fui posto fora do Éden

Quando me deixaste.

Tive minha peremptória queda,

Tive a dissociação e dissolução

Desta alma una de amor

E da forma sólida deste coração.

Perdi meu Deus soberano

E percebi que um deus fabricado

Não opera milagres

Apenas produz as vontades

Daquele que o criou

Em sua crença infantil

Sem qualquer simetria.

Este não passando nunca

De um ridículo fósforo-sol,

Farol de míseros segundos

Que não salva do precipício.

Perdi-me de Deus. Vaguei

No sal das lágrimas de prata fria,

Pois demônios-cupins de falsa vulgata

Comeram as raízes de vidro da minha

Árvore da Ciência do Bem e do Mal

Não tive sua sombra nem seu alívio

Nem seu fruto de doce pecado, guardado

Latejante e febril pouco abaixo do umbigo.

Restou-me somente a incitante

Serpente ao meu lado vago

E a sabedoria dos passos solitários.

Ao estar com esta alma longe, tão longe

Da unidade deste ser Todo-Poderoso Amor

Pereço. Padeço. Ando em busca de uma

Nova crença, tentando achar uma ideologia

Própria, mais poderosa e justa, que não fabrique

Cacos, tristes corações quebrados e espalhados.

Talvez assim, abrace-me a onisciente, Verdade.

Agora que me fecharam as portas do Éden

Em último fiasco de vã tentativa eu rolarei

Na lama santa da Parusia onírica da apoteose

Apocalíptica da solidão eterna que se abre

Num ato tão somente dramático e sem anunciação.

Erguem-se as fundações, as barras de ferro desta prisão,

Desta gaiola aberta, porém sem fuga, inferno da carne.