Tédio
O tédio
é a monotonia
de um dia após outro dia...
É vegetar como planta sem raiz...
Sem ser feliz...
É trabalhar pelo salário;
é esquecer sonhos no armário;
é viver sem alegria...
Viver sem sonho, sem poesia...
Viver sem dor...
Viver sem amor...
É não sentir da vida o assédio...
Morar sozinho no prédio...
É ver a vida da janela
e não fazer parte dela...
O tédio
é um mal sem remédio
a não ser que o dia
possa ser o derradeiro...
Ou que o vento sacuda a planta...
Ou que o salário perca o emprego...
Ou que se arrombe o armário...
Ou que se tenha um pesadelo...
Ou que a falta de dor seja amor...
Ou que a falta de amor seja dor...
Ou que a vida se acabe...
Ou que o prédio desabe...
Ou que se feche a janela
e se saia pela porta...
Ou que se pule da janela...
Porque viver uma vida assim
é ser uma natureza-morta
escondendo uma parede vazia...