O segredo de minha noite ("qui-dort-meurt")
Assim como em todas as noites normais,
passeio por sobre e desbravo veredas
na névoa da alma de ilusões tredas,
na ária bucólica de sonhos ancestrais.
Tateio o escuro e descubro os teus olhos
na catedral gótica de antigos anseios,
na floresta oculta e sagrada do medo
da Ananke suprema a pesar sobre nós.
Mistério de eras que habita minhas pálpebras,
de uma seiva que enleiva-me à plenitude;
recai-me no peito aflito e em sono,
enquanto eu navego no aquário da noite.
Num ímpeto incônscio que abate em suspiro,
tão só o que vejo é aquilo que sinto.
E sinto o vapor de teus olhos bonitos,
guiando-me enfim pelos fios da vida.
Quisera eu dormir em tua carícia divina,
polida nas águas do mar e da chuva,
que abriga-me da tempestade da vida,
que mata-me nas vagas do teu oceano.
A Cadeira de Gild-Holm'-Ur, o teu colo,
talhado pelos artefatos de Deus;
pudera eu fitar o teu mar tão de perto,
e então sucumbir pelos desejos meus.
E dormir e morrer.