O segredo de minha noite ("qui-dort-meurt")

Assim como em todas as noites normais,

passeio por sobre e desbravo veredas

na névoa da alma de ilusões tredas,

na ária bucólica de sonhos ancestrais.

Tateio o escuro e descubro os teus olhos

na catedral gótica de antigos anseios,

na floresta oculta e sagrada do medo

da Ananke suprema a pesar sobre nós.

Mistério de eras que habita minhas pálpebras,

de uma seiva que enleiva-me à plenitude;

recai-me no peito aflito e em sono,

enquanto eu navego no aquário da noite.

Num ímpeto incônscio que abate em suspiro,

tão só o que vejo é aquilo que sinto.

E sinto o vapor de teus olhos bonitos,

guiando-me enfim pelos fios da vida.

Quisera eu dormir em tua carícia divina,

polida nas águas do mar e da chuva,

que abriga-me da tempestade da vida,

que mata-me nas vagas do teu oceano.

A Cadeira de Gild-Holm'-Ur, o teu colo,

talhado pelos artefatos de Deus;

pudera eu fitar o teu mar tão de perto,

e então sucumbir pelos desejos meus.

E dormir e morrer.

Eduardo G Silva
Enviado por Eduardo G Silva em 22/07/2018
Reeditado em 14/08/2018
Código do texto: T6397333
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