Um dia abençoado

O menino assim num ímpeto

De impensada atuação

Colhe aquele dinheirinho

Que do bolso de uma moça,

Caiu no meio do chão.

A moça descia a rua.

Depois, a um assobio,

De seu pai que então passava,

Foi de carona pra casa

Com o bolso bem vazio.

O menino seguiu viagem,

Na escola foi aprender.

Português e matemática

Pediam de sua mente,

Que não podia esquecer:

A moça, agora, distante

Buscando aquele dinheiro,

Que nem tão pouco era assim.

Vasculhava toda a casa,

O quarto, a sala, o banheiro.

O menino nem dá conta,

Ele, que era inteligente,

De responder com acerto

Tudo que a mestra mandava,

Pois um dizer persistente,

Dos pais, talvez do bom Deus

Ou de alguém que lhe queria

Na Terra ou em outros mundos,

Alertava pro pecado

Que lhe trouxe aquele dia.

Sabia onde ela morava,

Onde vivia a beleza -

Que no fundo ele queria,

Com querer dos inocentes -

E pra lá foi com presteza.

Tocou logo a campainha

E bem tímido esperou

A moça tão linda e doce,

Que ouviu toda a história

E nada, nada indagou.

Da história bem montada

Ela não desconfiou.

E, mesmo que desconfiasse,

Seu coração tão bondoso

À criança perdoou.

O menino assim mais leve

Foi pra casa sem pecado.

Nunca disse pra ninguém,

Ficou aquela alegria

De um dia abençoado.