VELHA PÁGINA

VELHA PÁGINA

Os sonhos vão morrendo

E vão matando a esperança

Suspiro a desventura

Das ilusões fenecidas

E das mágoas estabelecidas

Tarde de inverno

Sem quiçá primavera

Para abrir janelas

Há espiral sequela

De anos pensados vividos

Foram sim passados

A ferro e fogo

Sem direito a rogo

Por se achar missionário

De mundo melhor

Em clarão de estrelas

Que já não se consegue vê-las

Apagaram-se ou foram cadentes

E o céu agora é deserto

Tão longe tão perto

O oceano é triste

Sem sal sem ondas

O dedo em riste

Acusa a culpa

Com rosas na mão

Espinhos em comunhão

Não há beijos

Sequer abraços

Cansados os braços

Imóveis sem forças

Sem conseguir apontar caminho

Peno e definho

Da sepultura me avizinho

E volto a cada lugar

Em extrema solidão

E passarinhos

Não cantam mais

Não há canção

Quem sabe haverá descanso

Num lago manso

Ou água aos borbotões

Olho os botões

Que abotoam a madeira

Sobrará a pouca madeixa

Ossos e escuridão

Ante quem sabe luz

Vagamente na ermida

Quem sabe tida

Como ressurreição

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 07/09/2018
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