Poema sobre poema

Vou contar para vocês

um caso que sucedeu

na Paraíba do Norte

com um homem que se chamava

Pedro João Boa-Morte,

lavrador de Chapadinha:

talvez tenha morte boa

porque vida ele não tinha.

Ferreira Gullar

Esse João Boa Morte

Não foi um cabra de sorte...

Lá bem longe, no Nordeste,

Nos confins da Paraíba,

Onde a miséria é peste,

O João foi trabalhar

Pro coronel Benedito,

Que do nome nada tinha,

Pois sendo muito orgulhoso

Mais parecia o tinhoso

A explorar o lavrador,

Noite e dia, dia e noite.

E, se não vinha de açoite

Pra maltratar de verdade

Quem com ele trabalhava,

Fazia coisa pior,

Pois té mandava matar

A quem o desafiava.

João foi bem atrevido.

Ousou confrontar o homem,

Quando exigiu mais dinheiro

Para na lida ficar.

O dono não aceitou

Tão enorme atrevimento

E, depressa, sem demora

Mandou Boa-Morte embora

Coa a mulher e os pequenos.

Ninguém lhe dava serviço.

Eram todos avisados,

João virara inimigo,

Inimigo declarado

Do coronel valentão,

Senhor daquele sertão...

João cai em desespero,

Um filho morre de fome,

Justo o deles mais novinho.

Mas João era muito homem,

Pra da vida desistir

Levando junto consigo

A mulher e os outros filhos,

Despedindo desta vida,

Que não lhe foi bom abrigo.

Mas seu ato tresloucado...

Ó Meu Deus, foi impedido,

Por Chico Vaqueiro, o amigo,

Que apresentou pra João

A força, a superação

Do mais pobre, do explorado

Nas Ligas de Julião...

Vaqueiro leva João

A um tempo de esperança...

Um tempo em que o camponês.

Certamente há de ter vez.