Sob o domínio do medo

que grande sensação

o medo

ele te toma por inteiro

e sem preliminar

é como um beijo forçado

um puxão pelo braço

uma boca te sugando o ar

o medo de ter medo

do qual falou Renato

que é um medo agigantado

do não visto e não falado

é o medo de ir e não voltar

o medo são palavras inteiras

grandes, algumas meeiras

ditas sem titubear

não vale a pena escrevê-las

nem mesma as recitar

medo é rima fácil

rima com dedo

em riste, no meio da cara

ou no gatilho

com trocadilhos e eufemismos

é a ameaça que não quer cessar

o medo é dedo na ferida

na chaga aberta, memória viva

de gente que viveu um sonho

de liberdade sem medo

e morreu cedo

em meio ao sangue e o medo

mas é segredo

não se pode contar

o medo tá na esquina

tá surdina

tá na janela a bisbilhotar

tem o medo brutamonte

e tem o medo pequenito

tem o medo ainda não nascido

e o medo que morreu e quer voltar

o medo dá nó na garganta

e também chave de braço

e te empurra de lado

o medo atira pra matar

e se a bala não mata

o medo vai de porrada

pau, pedra e faca

"é pra bater até derrubar"

primeiro o medo te abraça

daí te paralisa e te arrasta

pro quarto escuro, nos fundos

de um endereço sem casa

o medo tranca a porta

e sem voz e sem mão e sem boca

se apossa do meu eu-corpo-em-vão

o medo é uma coisa

ou seria coiso?

que troço doido

um neologismo causar medo

aqui e acolá

mas uma coisa é certa

com ou sem medo

o fascismo não passará

Luiz Eduardo Ferreira
Enviado por Luiz Eduardo Ferreira em 25/10/2018
Reeditado em 25/10/2018
Código do texto: T6485523
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