Avesso

Ardia como em dores de parto.

Chamado do avesso.

O corpo se retorcia como soubesse o caminho.

Parecia ansiar a estrada.

Eu temia o nascer.

Pareciam rupturas.

E, talvez, fossem mesmo...

Talvez, fosse esse o pavor.

Rasgar o velho pra singrar o novo.

O pavor impedia os desígnios da força.

Parecia cabo de guerra:

sucumbir ou conter?

As dores eram mais intensas a cada segundo.

Via a hora chegar.

Talvez, ansiasse ser vencida.

Mas precisava consentir...

Aí, renovou-se a angústia.

Provocaria a morte de mais um rebento?

Talvez, eu não suportasse mais essa perda...

Talvez, tenha retornado à primeira morte.

Minha morte.

Talvez, eu nao pudesse mais morrer.

Era como se apenas uma face clamasse pela vida.

Era chegada sua vez.

O temor de que ela devastasse todas as outras, produzia a autodestruição.

Eu, devoradora de mim.

Já enxergo os próximos passos.

Criatura e criadora:

eu, nascedouro de mim!

Marii Andrade
Enviado por Marii Andrade em 06/11/2018
Reeditado em 07/11/2018
Código do texto: T6496047
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