MEL E VENENO

Num mesmo pote
que à mim foi dado - colocaram
mel & veneno
- tomei !

... e do mel me agraciei em dor (falso sabor)
... e do veneno me refis mais forte, sem dó (não morri)

E do amor que tiveras alguém me dado,
(falso ou não)
imune ao sabor dos gostos
impune aos desaforos
in plenitude de atos afoitos
- ao nada que ilude -
calado sofri... mas relutante, sobrevivi.

E saciado da fome e desejo,
sem medo num arremedo,
do mel & veneno eu misturei, 
(pois gostei)
e tomei outra vez. 



ILESO

Creio eu que o toque d'amor é um reles encanto
que nos aquece ao tempo do inverno: um manto, 
trazendo-nos mero acalanto, 
ao conforto d'alma, sacrossanto,
como suave melodia (um canto)...
mas que ao tempo da vida no seu disforme entretanto
pouco ou tanto
- entre afagos -
quando da perda que vem (e virá),
com certeza - é fato
o desencanto, porquanto
em qualquer canto, 
sadio ou antro, 
dá-nos em troco,
ileso, o pranto.

E não é tanto faz, nem tanto fez. 
É algo que jaz, à lisura desse toque numa fina tez. 

ah, tanto, 
     ah, tanto,
          ah, tanto. 



 
VICISSITUDES

Daquele pretenso sonho de amor, 'a priori',
se conheceram
se experimentaram
se saciaram
viveram seus 'carpie diens' como nunca dantes, 
numa válida experiência do instante...
mas entre si, ao consumo dos fatos
se duvidaram
e entrepostos de malfeitos & bem-quistos, 
(olhos-nos-olhos)
vinhos ao sabor de poesias
se respeitaram,
se desataram,
e o sonho de amor - hoje - rarefeito ao consumo do tempo,
é somente:'a posteriori'.



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'as pedras no meu caminho significam apenas sinais'