Papel de Aço

Nutri o cheiro do passo

quando me alcei sobre

a ira do abismo

O fogo encolheu meu poema

escrito no papel de aço

desbotando a nudez do real

A folha voou do passado

revirou as sementes que ainda

estão a nascer

O futuro inútil deu um tapa

na boca dos olhos cegos

que choram por amor

A navalha limou o ego

afinou meu canto incrédulo

perfurou minha língua

enfeitada de pedras vazias

A noite rabiscou o céu de azul

e estrelas caíram

no colo do sereno

E o beijo solto que andavas por aí

perdeu-se na linha imaginária

de um olhar fresco

que derrama fogo

Os ossos que me sustentam

me levam numa armadilha

que rimam no compasso

do coração.