DEVOÇÃO

Criança, a febre envenena-lhe a razão,

quando da parede branca à sua frente,

brotam farrapos de guerras perdidas,

e orações em línguas extintas.

Santo é o nome de suas horas brutas,

onde queima-lhe a fronte o delírio abrupto

de uma madrugada no meio do dia.

Criança, a morte lhe glorifica o desânimo,

de pecados que nunca virão sem preço.

Santo é o desespero que lhe precede a queda,

tornando insustentável a presença da ferida.

E por tratar-se de língua morta e causa perdida,

é que nesse mundo de doenças e despedidas,

toma-se a causa pelo efeito da oração silenciada,

quando pende a mão da criança, impertinente e sem vida.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 06/02/2019
Código do texto: T6568778
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