DEVOÇÃO
Criança, a febre envenena-lhe a razão,
quando da parede branca à sua frente,
brotam farrapos de guerras perdidas,
e orações em línguas extintas.
Santo é o nome de suas horas brutas,
onde queima-lhe a fronte o delírio abrupto
de uma madrugada no meio do dia.
Criança, a morte lhe glorifica o desânimo,
de pecados que nunca virão sem preço.
Santo é o desespero que lhe precede a queda,
tornando insustentável a presença da ferida.
E por tratar-se de língua morta e causa perdida,
é que nesse mundo de doenças e despedidas,
toma-se a causa pelo efeito da oração silenciada,
quando pende a mão da criança, impertinente e sem vida.