Minutos de silêncio
Alinharam-se,
Em minha constelação interior,
As estrelas numa posição
De permanente instabilidade,
Da mesma maneira a qual
Estiveram da primeira vez
Em suas órfãs cintilâncias.
Não é tomado
Muito do meu tempo
Para reconhecer
A pessoa a qual
Meus olhos encontram
Quando aventuro-me
À observar cada linha
De meu reflexo.
São raros e preciosos
Momentos que permanecem
Desprovidos de qualquer
Sentimento que causa
Uma desconfortante nuância
Pelo o que devo
E o que proibi a mim de sentir.
Recuperei o ar dos pulmões,
Fechei minhas pálpebras
E cheguei a um novo recorde
Em minha contagem progressiva
Para que eu lentamente
Tenha novamente minhas forças
Trabalhando ao meu favor.
Fiquei no canto da janela,
Conversei com o céu,
Vi amantes jovens
Esbanjando suas
Efêmeras volúpias enquanto
O mundo ao redor
Não parecia demonstrar existência.
Coisas temporárias
Têm suas maneiras
De marcar memórias
De uma maneira que
O eterno inveje.
Pois aquela flor
Destacável do jardim
Será a primeira a ter
A sensação de ser
A primeira a qual
Expirou-se seu tempo.
E enquanto a tarde
Fora preenchida
Com o som e as vozes
Cantadas em
Antigas músicas de redenção,
Eu me pergunto
Se elas sentiam o mesmo.
Ri sozinho
Ao esporádico lembrar
De que houve vezes
Em que a vida fora
Um viciante doce
O qual desejara apenas
Ter mais uma vez
Seu gosto em meu paladar.
Retratos e momentos marcados,
Talvez um dia
Poderei vê-los
Passar diante de minha
Escurecida visão,
Mas não hoje.
A rua vazia,
As folhas secas
Levadas pelo vento,
Os primeiros pingos de chuva,
Os primeiros versos
Escritos em antecipação.
O clima se adapta
À minha contemplação,
Pensamentos fluem melhor
E já não há mais
Complicações em aceitar
Algumas condições
Da maneira que elas são.
Minha cabeça cai no travesseiro,
Enrolo-me no cobertor
Afirmando pensamentos
Que as feridas de ontem
Doem muito menos hoje.