Olhando-me

Poderia dizer que tudo permanece igual

Mas sobra-me este olhar inquieto

Cores e silêncios que evadem do meu corpo

E num rodopio, misturam-se, embriagam-se

Desfazendo a suposta placidez do tempo

Confundindo a ordem aparentemente estabelecida

Não falo destes sentimentos básicos

Que se enclausuram em moldes

Ou que voam em rotas definidas

E se autodenominam profanos ou sagrados

Desaparto-me dos modelos, das grades

Para deambular no que não sei de mim

Não quero apenas sobreviver, respirar

Quero-me além dos espelhos, das confissões

Das declarações explícitas dos pecados

Ou da remissão dos desacertos, das faltas

Sou desmedida, quando digo que amo

Inexata em gestos que me supõem

Minhas mãos não ocultam carícias

Falam sem pudor de tremores, gemidos

Dos arrepios e calafrios do coração

Escrevem espinhos, sangram letras

Vivem a me surpreender em atitudes

Desnudam-me os pensamentos, a alma

Nego-me à mesmice, absolvo-me da normalidade

Concedo-me o direito da busca, do sonho

Dou-me ao ardor de seguir por labirintos

Quando é minha a fome de caminhos

Alimento-me das descobertas, dos percursos

Perdôo o enfado, o cansaço e até o tédio

De quem apenas abraça destinos, chegadas

Sou de pegadas, de experimentar passos

De tatear-me em meio às brumas

Há quem sonhe com oásis, flores

Mantendo os olhares entre muros

Espreitando a vida pelas frestas

Há os que abafam suspiros, desejos

Confinando-se como limite, fronteira

Protagonizo-me sem ensaios, sou de vivências

E mesmo, quando as cortinas parecem fechadas

Estreio-me, reviro minhas falas e emoções

Interessa-me o enredo da vida

Por isso acendo as luzes dos bastidores...

Fernanda Guimarães

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Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 15/03/2005
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T6630