Pintou, não se demorou, foi embora

Não reconhece

Nem tom, nem pele,

Ou a cicatriz no rosto

Nem o sofrimento exposto

Sem senso

Vira para o lado e esquece

Não de verdade

Mas tapa os buracos com areia

Escondem e deixam

Criar raìzes e formar teias

Entorpece ao forçar o esquecer

Caminha, volta, se aborrece

Pois falta encaixe

Falta casa com cheiro de lar

Falta lugar onde se queira ficar

Pinta um novo aqui

Mais um de outros que estão por vir

Pinta com tinta bonita

Desenha como quem encontra o lar

Enfeita a certeza

Que logo se apressa em duvidar

Para o próximo passo do outro dia

Fazendo caminho que não queria

Cansando de procurar

O espaço certo para se deitar

De tantos lugares pintados

E tantos passos desistidos

Por tantos falsos lares encontrados

O tempo que se fez uma vida de procura

Já não reconhece o primeiro lugar

E compreende ao perceber

Que todos os lugares foram casa

Mas que o primeiro lugar era o lar

Onde os passos levaram para longe

E em círculo fez voltar

Os lugares riscados

Pintados, decorados

São parte do lar

Lugares onde cada pedaço de história

Se encontra

E pra onde a memória retornará.

De versos, sons e tintas

Se faz casa, morada ou lar.

Onde mora a memória

Onde todos querem voltar.