VADEANTE
Donde o meu paradeiro?
No alto, na beira do rio...
Os meus olhos viajando nos horizontes
Além das águas, além dos montes...
O meu riso não é de boas vindas:
Eu rio do teu medo do rio
Que eu conheço tão bem...
O que é um rio para quem sabe do mar?
Na beira do rio sou moleque,
Na beira do mar sou mais do que um homem...
Atravessar rios é um passeio,
Folguedo de um domingo azul;
Caminho de pedras rasas, contadas, conhecidas:
Tu que é que não sabes donde elas estão...
Na beira do mar,
O meu paradeiro também é no alto,
No mais alto dos penhascos,
Bem acima das procelas,
Mas, não me reconheces na beira do mar:
Sou um velho,
Não finjo coragem de menino que conhece
As pedras do rio;
O mar é o mar, seja noite seja dia,
Atravessar o mar, ir e voltar, estar pronto para te levar
É coisa que não imaginas, por isso,
Não me reconheces
Na beira do mar...
Mas,
O mar, imenso e profundo, também dá pé,
Não importa se de noite ou de dia, não importam as procelas,
O mar dá pé.
Sozinho eu rio do mar,
Mas, se te levo pela mão vou em silêncio:
É preciso respeito por quem ainda tem medo de rio
E pode fundir-se ao mar,
Enquanto eu precisarei voltar...
O mar não tem fim, não tem fundo,
Não tem alto nem em baixo:
Andar no mar é segredo
De quem sabe voar...