URSO

E assim, não mais que de repente,

Abriu-se, bem na minha frente,

Um abismo que eu já vira parecido outrora...

Onde eu bem me lembro, já caíra...

E agora, eu não sei se era hora,

Para um novo abismo me aparecer...

Mas abismos não têm dia nem hora...

Basta um sismo moderado

Num ser fragilizado, carente e abandonado...

Uma cochilada, um escorregão...

Pisas em falso, perdes o chão

E, em total desmazelo,

Lá se vai teu coração incauto,

Caindo, lentamente,

Sem que ao menos possas detê-lo...

Sem que um arauto benevolente

Te avise ou te dê a mão...

E se cais, perdes todo o controle e a razão...

E o abismo danado te mastiga,

Te deglute, te engole... te devora

E por mais que tu lutes,

Não vai adiantar...

Melhor se abandonar

E deixar seguir o curso,

Nos braços deste urso

Feroz e insaciável que se chama amor...

Ouvindo Adriana Calcanhotto – Metade

Luna Mia
Enviado por Luna Mia em 03/06/2019
Código do texto: T6663581
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