SEM RUMO

I.

As liquidações de roxos na noite estranha.

O damasco. A linha lateral cor de laranja.

O cigarro fino no portão. A pouca fumaça.

O verso sem rumo. O poeta sem palavra.

II.

A certeza do nada. O gosto ruim na boca.

Uma euforia às avessas. O ar que rareia.

A taquicardia nua. O calafrio. A voz rouca.

Oco. Ecos num deserto tosco e sem areia.

III.

O lamento em silêncio. A cabeça baixa.

O olhar solto no horizonte sem horizonte.

A fatura do futuro o presente que escapa.

Cenário de passados. O ontem. O ontem.

IV.

A véspera da primavera. A noite úmida.

A lua prata. Os âmbares. Os ocres rudes.

O bafo frio da esquina. O beco púrpura.

O céu. A assinatura elétrica das nuvens.