POEMA BASTARDO

Pai, ó Pai, afasta de mim este poema

que somente fará sentido, se plena

estiver a alma, em paz ou em conflito,

e o verso tenha chance de ser infinito.

Afasta, pois, quem, afinal ganha algo

em mergulhar na pressão do abismo

e, fundo, descobrir que o poeta é opaco

em vez de ser simplesmente cristalino?

Pai, afasta, então. Não sei qual imagem

é consistente para um fracasso antecipado.

No lado frio da manhã vejo o desassossego

dos dias no reflexo quase branco do espelho.

O poema não tem nada de paz. É desespero.