Ó Selene (Tradução de My Selene)

Ó poesia noturna!

Vestida com teu véu branco argentino,

sorris dos céus a mim, teu cego servo,

e o riso em minhas faces eu preservo

aguardando Selene em desatino.

Ainda assim

a solidão me desfere na pele

uma existência algemada à razão.

Quando serei o teu Endimião?

Por quantas eras terei esta febre?

Banhar-me-ia em tua luz lunar

para adormecer, finalmente, em paz,

com harmonia, na trégua dos ais,

pelo teu beijo, e não mais acordar.

No entanto, noite, até lá,

não sou nada além da espera.

Passe o ano e passe a era,

não existo sem meu par.

Pois a cada amanhecer,

quando vais, minha alma sofre.

A sombra desaparece,

segue negra minha prece.

Quando vais, minha alma morre.

Mas, ó Selene e céu negro e perfeito,

à noite sois para mim tão completos!

Há oceanos e ares repletos

de sublime perfurando-me o peito!

Nessa tortura vulgar é que sigo...

Vou solitário e criança na vida,

procurando a alma da lua que brilha,

mas estou só toda noite que vivo.

Encaro a lua e sorrio. Mas ai...

Há luz que engana. Há calma que trai.

Enquanto aguardo meu sonho,

sonharei perenemente.

Está longe do meu olho

mas nunca longe da mente.

Já sob a lua minguante

sigo aqui te olhando sempre.

A sós sob a luz cegante,

nenhum outro ser vivente.

Ao fim, escravo do próprio ideal.

Ao fim, de todos, o mais trivial.

Escondido do sol, sou na caverna!

E meu sonho se torna um pesadelo

no qual estou sozinho e tenho medo.

Se você não existe, a vida é isto:

um projeto que nunca será visto.

Então me agarro à esperança que parte

porque sonho que ainda não é tarde.

Pois eu sei, noite, até lá,

não sou nada além da espera.

Passe o ano e passe a era,

não existo sem meu par.

Já sob a lua minguante

sigo aqui te olhando sempre.

Não virás, Selene amante,

serei só eternamente.

Minha última chamada!

Minha vez de anoitecer!

Adeus à dor da alvorada!

Para o céu, escurecer!

E no amanhecer do dia,

com o prata que me guia,

fui, solene, vertical.

E agora, sou trivial,

ó Selene?

----

Tradução de possivelmente minha música predileta até hoje: My Selene, de Sonata Arctica.

Malveira Cruz
Enviado por Malveira Cruz em 24/09/2019
Código do texto: T6753218
Classificação de conteúdo: seguro