VERBO TRANSITIVO DIRETO

Perder é uma arte

Perde-se o amigo do peito.

Perde-se o amor da vida.

Perde-se a ilusão de amar.

Perde-se o caderno, o lápis e a borracha.

Perde-se o casaco em algum ponto de ônibus.

Perde-se o tempo, o relógio, as estribeiras.

Perde-se a si próprio.

Perde-se o programa de TV.

Perde-se as horas.

Perde-se o movimento.

Perde-se uma parcela da vida ou a vida em sua totalidade.

Perde-se a sanidade.

Perde-se a sensibilidade.

Perde-se cartas, memórias, lembranças.

Perde-se um livro.

Perder é uma arte.

Perde-se a coragem.

Perde-se o inimigo.

Perder-se a vontade – seja lá qual for.

Perde-se a casa, o carro, a mulher.

Perde-se a loucura.

Perde-se a viagem.

Perde-se um par de sapatos.

Perde-se o interesse.

Perde-se o desejo.

Perde-se dinheiro.

Perde-se certezas.

Perde-se dúvidas, também.

Perde-se as perguntas, respostas e teses.

Perde-se até os paradoxos.

Perde-se os defeitos, as deformidades da alma.

Porém, perder é uma arte: na medida em que se perde, a vida ganha as lacunas.

Lacunas que podem ser preenchidas por tecidos brancos, para pintar um novo dia.

Depois,

simplesmente, perde-se de novo e mais uma vez e outra e outra, por isso:

Perder é uma arte: uma necessidade.

Jailson Anderson
Enviado por Jailson Anderson em 15/10/2019
Código do texto: T6769875
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