SECA

Há um ano que não chove.

Caem pássaros das árvores

como frutos ressequidos.

Da terra saem mãos escanifradas

em súplicas de sede.

Os rios soluçam

nas pedregosas margens

em dolentes e débeis cachoeiras.

Os trigos, derreados, cabisbaixos,

curvam-se e já não se ornamentam

de papoilas.

Os ventos assobiam medos

por entre os olivais

e arremetem contra os frutos

ainda em flor.

As minhas lágrimas

deixaram de correr.

E os crentes ajoelham ante a cruz

e erguem os olhos, numa prece:

Um copo de água, Senhor...

CARLOS DOMINGOS
Enviado por CARLOS DOMINGOS em 05/11/2005
Código do texto: T67819