Arautos Negros - Há golpes na vida insuportáveis

Há golpes na vida tão duros, que não se consegue suportar, soam como o ódio de Deus, como se diante deles todo o ressentimento se apossasse da alma... Eu nem sei!

Esses golpes são escassos, mas acontecem, e abrem marcas escuras no rosto do mais valente e nas costas do mais forte. Seriam talvez como cavalos numa guerra, como arautos negros determinando a morte.

Isso nos leva a uma queda profunda do Cristo da alma, daquela fé adorada, e agora só o destino blasfema. Esses golpes sangrentos são como as crepitações de um pão que se queima na porta do forno.

E o homem, pobre, pobre! Volta seus olhos, como quando, por sobre o ombro, alguém o toca; volta os olhos enlouquecidos. E toda a sua vida apresenta-se, como se fosse um pântano de culpa, no olhar. Há golpes na vida, tão fortes... Eu nem sei!

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Texto original em espanhol de Cesar Vallejo, versão de Célio Pires de Araujo. Esse é um dos meu poetas preferidos, é peruano e praticamente inédito no Brasil. O presente texto trata das mortes injustas e inesperadas e a inconformidade que isso causa nas pessoas. Por esse sentimento inventou-se a filosofia, Vallejo fez um belo poema.