ODE À SENHORA DO SOBRADO

ODE À SENHORA DO SOBRADO

Bela e amável senhora

apareça no terraço

deixe que a brisa brejeira

bata leve seus cabelos

que lembram trigais maduros

ondeando sobre as coxilhas.

Descanse o olhar sereno

na placidez da cidade,

ouça o vento em contraponto

ao murmurar das ramagens,

em melíflua sinfonia

num concerto singular.

Senhora, bela e amável

dia desses, num relance

lhe percebi com deleite

a silhueta grácil, frágil

passeando na praça calma

sobre um andar de gazela,

pois, saiba distinta dama,

que esse sorriso de aurora

em tênue luz de candil,

formata linda gravura

num quadro de lua nova

nas mornas noites do pago.

E também foi num repente

que meus olhos madrugueiros

perpassaram seu recato

por uma pequena fresta,

em meio a sete botões

de uma blusa de algodão

sete vezes bem fechada,

pra pousarem seresteiros

levando os dedos da alma

num afago imaginário

à candura de seu colo,

de alba-rosado matiz.

Outras vezes a percebo

cabelos lourando ao vento,

gestos calmos, comedidos

absorta, desprendida,

a seda branda do rosto

dourando na luz divina

de uma réstia distraída

que o sol lhe dá por moldura

para compor, fulgurante,

um perfil de deusa grega

que veio adornar a pampa

nos cultos da primavera.

Senhora, talvez não saiba

mas há uma cálida névoa,

meio bruma, meio nuvem

a lhe envolver a silhueta

que em suaves meneios lembra

esguias garças ariscas

num bailado sonolento

sobre sutis aguapés.

E mais ainda, senhora!

Vos elegi minha musa,

vestal guardiã dos desvelos

E do amor que me acomete.

Senhora, entendo esconder

nesse vetusto sobrado

seu recato de romance

num quadro de dama antiga,

pois, meus olhos predadores

transpassam esses resguardos

varando sensuais recantos

pra recolher em segundos

envolta em véus de mistério,

imagem doce de fêmea

em bulícios harmoniosos

nos férteis cios de setembro.

Senhora dos meus enlevos,

apareça no terraço

desse sisudo sobrado

onde por vezes se esconde.

Preste atenção neste canto

que nasceu em noite insone

para prantear seu silêncio

e o claustro no casarão.

Senhora, musa encantada,

conceda-me um só sorriso

e abandone esse retiro,

pois, viverá neste poema...

moises silveira de menezes
Enviado por moises silveira de menezes em 07/11/2005
Código do texto: T68312