ROMANCE DE CAMPO E MAR
Quem embarca em barco alheio
Embarca anseios e medos
abarca sonhos nos braços
Que lançam redes no mar
Buscando nesta labuta
Garantir o pão na mesa
Onde a luz da lamparina
Ilumine rostos tristes
Todos crentes na esperança
De um dia ter vida boa
E talvez saber que o fim
É o sem fim azul do mar
Para quem mira de longe
Parece um frágil caíque
O barco que abarca um mundo
Que embarcou no continente.
Sarandeia sobre as ondas
por hora em suaves meneios
por outra quase sosobra
em tremendo corcoveio,
mas no leme, rédea firme
Juvencio com tino e rumo
sabe que vida renasce
na sobre vida dos tombos
Campeiro vindo de estância
Do mar verde da campanha,
Uma espécie de marujo
De campo verde e macega
Não vê muita diferença
Entre o lombo dos ventenas
E esses barcos araganos
Que buscam na faina diária,
Além de ricos cardumes
Respostas pras inquietudes
E talvez chegar ao fim
Do sem fim azul do mar
Juvencio é um desses tauras
que vieram do mar da pampa
tentar a sorte embarcado
nesses barquitos pesqueiros
quem outrora marcou, curou
quebrou corincho de potros
hoje garimpa garoupas,
bagres, tainhas gavionas ...
se equilibra sobre as ondas
quem antes se enfurquilhava
num maula que levitava
por sobre as ondas do pasto
Quem domou xucro em Santana
E gineteou nas “criollas”,
Tenteou traira em Rio Negro;
Fez presença em Vacaria,
Não respeita o mar por grande
Mas teme o desconhecido.
Juvencio se aferra ao leme
E lembranças passageiras
Dos mistérios do Jarau
De tirotear com gendarmes,
Compõe um mundo pequeno
Ante o reino de Netuno
Nas ondas crespas do mar
O barco navega suave
Buscando vida e sustento.
Há uma quietude que inquieta
Quem se aventura na lida
Num imenso reino marinho
Onde o peixe é garantia
De quem precisa sonhar
Pra alimentar outros sonhos
E amenizar esta angústia
De nunca chegar o fim
O sem fim azul do mar.
No lombo de um baio ruano
Que ondeava por sobre pastos
Numa “criolla” a lo largo
Entendeu assim de pronto
Que o sem fim verde do campo
Terminava no alambrado
Mas no leme de um pesqueiro
Num reino sem aramados
A liberdade é completa
E o fim do sem fim do mar
É o começo “por supuesto”
Do sem fim azul do céu