Jardim Imaginário
Na noite escura,
Entre postes de luz embaçada,
Como lua enevoada,
Caminho pela rua
Que margeia os campos
Onde, aqui e ali,
Cintilam pirilampos.
Aperto os olhos,
Apuro a vista,
Um pirilampo pisca;
E num abrir e fechar de olhos
Vejo outro... outro... e mais outro,
Que seguem acendendo... apagando...,
Acendendo... apagando...,
Num celestial pisca pisca;
Como estrelas cadentes,
Riscando a noite baça,
As luzes pirilampas refletem
Em minha alma
O verde azulado:
Cor que me acalma.
E na claridade inconstante
Vejo um jardim imaginário,
Com profusão de flores,
Cheiros e cores,
Onde Jasmins brancos e amarelos,
Dançam ao vento,
Que sopra entre pedras,
Produzindo um som de lamento;
No ar sinto o odor de caramelo
Das Damas da Noite;
E o perfume das Rosas
Mistura-se ao cheiro da Canela.
Miro coloridas Amarílis,
Begônias, Azaleias, Cravinas
E uma, apenas uma Camélia,
Rosa... esplendorosa!
Como verdadeiros escravos,
Diante dela, espontaneamente,
Curvam-se todos os Cravos,
Reverenciando a beleza presente.
Observo o Lírio, adiante,
Que ao sabor da brisa suave,
Balouça em movimento elegante,
Saudando a Gérbera,
A Calêndula e o Agave.
Paro meu caminhar,
Ouço o canto do rouxinol
E da coruja em seu ninho o crocitar,
Enquanto uma abelha acorda o Girassol.
O dia está chegando
E eu aqui num vergel inexistente,
Andando?
Tenho um pensamento premente:
Se não for embriaguez,
Então perdi a lucidez.
Aproveito a aparente loucura
Para o meu deleite,
Enquanto o sol não raiar de vez,
Trazendo a claridade pura
Prosseguirei apreciando o Amor-Perfeito,
O Botão de Ouro, os Copos de Leite...
Clareou!
Os pirilampos se foram,
Mas ainda restam Antúrios,
Hortênsias, Orquídeas
E uma infinidade de flores,
Para as próximas noites insones.