Na margem do rio

Curvo-me

na curva do rio

e em vão

procuro o coração

que dizem

lá estar enterrado.

Quantas lágrimas

seguem nestas águas?

Quantas mágoas

deságuam no mar?

Ouço o cântico das lavadeiras

na beira deste rio

as águas a murmurar entre as pedras

segredam a mim

o que tu não segredas.

Lavo meu espírito

lavando-me

nas águas deste rio

onde banho meus olhos

onde umedeço meus sonhos

e sigo a correnteza,

esta corrente de incerteza

que me arrasta

sem libertar-me deste corpo

preso à sua margem.