Mão Dupla

Deixei abertos meus pulsos

E embainhei meus punhais

Mas não esqueci do meu curso

Mesmo amarrado ao cais

Todo ódio em mim guardado

E a ferida magoada

Que um dia me fez ancorar

Os mesmos motivos latentes

Que vão me tirar das correntes

Pra de novo ir às plagas lutar

Hoje quedo aguardo intranqüilo

A velha sede me voltar

Sede de sangue talvez

Fome de paz eu não sei

Mas agradeço a quem me despertar

Vejo o horizonte aceso

E o fogo se aproximando

Não vou sair, este é o meu lugar

Se estou aqui por acaso

Este perdeu-se nas chamas

Eu não sou folha ao vento pra nele me lançar

Só o que eu quero de volta

É a minha força de amar

De novo serrar os punhos

E aos ares lançá-los

O sonho é vivo

Sinto sua chama me consumir

Fui talhado pra luta

Não posso disso fugir

Quando a noite chega calada

Escondo o sol dentro de mim

Pra não ser incomodado

Quero silêncio e fim

Mas ainda pego a caneta

E escrevo pra recordar

Da sombra que encobre minha face

Da luz que revela as feridas

Do breu que esconde as angústias

Do sol que mostra os encantos

Das mãos que tapam meu rosto

Quando estou em prantos

A dor encolhe meus nervos

E o sono não vem me brindar

A fúria em mim retraída

Vai outro meio indicar

E aí eu saio do coma

E amanhã eu te vejo

Quando eu quebrar a redoma

Vou te acordar com um beijo

06/2003