AS NOITES DO GUASSUPI

Com seu cortejo de sombras

a noite surpreende a tarde,

o aroma das primaveras

maçanilhas e alfazemas

preenche espaços vazios

entre o olhar e o sentir.

Linha fixa o horizonte

as vezes se achega mais

por outras dispara e para.

Se esgueirando vagarosa

a estrada parece estranha

entre o demais da paisagem.

Sonhos de muitos andores

no batente das porteiras,

moradas, naves solitas

na maré mansa dos campos.

Taperas em alvoroço

no imaginário da gente.

Não dorme nunca, não dorme,

vela o sono ao derredor,

aponta sempre o horizonte

de qualquer ponto de si,

a estrada é mundo de todos

ligando mundos dispersos.

O rio estende a preguiça

desenhando no varzedo,

cinzelando com paciência

a face nua das rochas.

Se acalma na noite mansa

prá o passeio das estrelas

e para o banho da lua

que vai de um quarto prá outro

trocando sempre a roupagem

no afã de encantar o rio

onde se mira vaidosa

com seus fulgores de prata.

Aqui a noite se esgueira

não cai, apenas se chega

o dia também, não se vai

faz uma pausa em retiro

por detrás da serrania

e as vezes quando desperta

por sobre a crista dos cerros

há respingos de sereno

na face rubra da aurora

alguma nesga de negro

sobre o claro da alvorada

a noite parte “ al despacio”

no vale do Guassupi.

As silhuetas dos cerros

recortadas contra o céu

parecem grandes fantasmas

sob o clarão da boieira.

Corujeiros, dois faróis

prescutam dentro da noite

varredura de rotina

vigilando a mataria.

Um sapo regente mor

rege uma orquestra maviosa

entoando canções antigas

em contra canto a dos grilos.

Quando as estrelas se ausentam

e a lua dorme mais cedo,

cá embaixo no grande vale

um lento acender e apagar,

procissão de vaga-lumes

com seu luzir andarilho.

Creio que andam na busca

de algo um tanto encantado,

talvez os baios- ruano

do negro do pastoreio

quem sabe, o rastro da moura

que se sumiu no Jarau.

moises silveira de menezes
Enviado por moises silveira de menezes em 11/11/2005
Código do texto: T70073