dá-me água

"dá-me um pouco d'água",

pedi-lhe à beira da fonte,

"essa sede que me mata,

que me vem de não sei onde".

"dá-me um pouco d'água",

implorei bem como pude,

"meu cantil já não tem nada,

já não há ninguém que acude".

"dá-me um pouco apenas",

repetia em desespero,

"a garganta já não lembra

de alentar-lhe algum refresco".

"os meus olhos já não vertem

senão sal, porque estão secos.

os meus lábios já se ferem

murchos, sem qualquer contento".

"dá-me água pra eu viver,

não se nega água, amigo!

mas se assim é que é, morrer

é bem melhor que viver, sinto."